Queixas Ginecológicas Comuns: Quando a Cirurgia Pode Ser Indicada?

Muitas mulheres experienciam desconfortos ou sintomas ginecológicos ao longo da vida. Desde cólicas menstruais e alterações no ciclo até dores pélvicas e sangramentos inesperados, essas queixas podem variar em intensidade e frequência. Felizmente, a maioria das condições ginecológicas pode ser gerenciada com tratamentos clínicos, mudanças no estilo de vida ou medicamentos. No entanto, existem situações em que essas abordagens não são suficientes ou a condição subjacente requer uma intervenção mais direta. Nesses casos, a cirurgia ginecológica pode ser a solução mais indicada para aliviar os sintomas e restaurar a saúde e qualidade de vida.

É crucial procurar uma avaliação médica especializada ao notar sintomas persistentes ou preocupantes. Uma investigação cuidadosa, incluindo histórico clínico, exame físico e exames complementares (como ultrassonografia pélvica, ressonância magnética ou histeroscopia diagnóstica), ajudará a identificar a causa do problema e determinar o melhor curso de tratamento.

Quais são algumas das queixas ginecológicas comuns que podem, eventualmente, levar à indicação de uma cirurgia?

Sangramento Uterino Anormal (SUA)

O sangramento uterino anormal é uma das queixas mais frequentes nos consultórios ginecológicos. Ele pode se manifestar como menstruações muito intensas (menorragia), sangramentos fora do período menstrual (metrorragia), sangramento após a menopausa ou ciclos irregulares. As causas são diversas, incluindo desequilíbrios hormonais, pólipos endometriais (crescimentos benignos no revestimento do útero), miomas uterinos (especialmente os submucosos, que crescem para dentro da cavidade), adenomiose (crescimento do tecido endometrial na parede muscular do útero) ou, mais raramente, lesões pré-cancerosas ou câncer de endométrio ou colo do útero.

O tratamento inicial geralmente envolve medicamentos hormonais ou não hormonais. Contudo, se o sangramento for muito intenso, não responder ao tratamento clínico ou houver suspeita de lesões estruturais, a cirurgia pode ser necessária. Procedimentos como a histeroscopia cirúrgica para remoção de pólipos ou miomas submucosos, miomectomia (remoção de miomas maiores preservando o útero) ou, em casos mais complexos ou quando a mulher não deseja mais engravidar, a histerectomia (remoção do útero) podem ser indicados.

Dor Pélvica Crônica

A dor pélvica que dura mais de seis meses é considerada crônica e pode ser debilitante. As causas são variadas e, por vezes, difíceis de diagnosticar, podendo envolver múltiplos sistemas (ginecológico, urinário, intestinal, musculoesquelético). Do ponto de vista ginecológico, a endometriose é uma causa comum de dor pélvica crônica, especialmente dor que piora com a menstruação ou durante relações sexuais (dispareunia). A adenomiose, aderências pélvicas (cicatrizes internas, muitas vezes resultantes de cirurgias prévias ou infecções), doença inflamatória pélvica (DIP) crônica ou miomas também podem contribuir.

O tratamento da dor pélvica crônica é multifacetado. Quando a causa principal é identificada como ginecológica e tratamentos clínicos falham, a cirurgia pode ser uma opção. A videolaparoscopia diagnóstica e terapêutica é frequentemente utilizada para identificar e tratar endometriose, remover aderências (lise de aderências) ou retirar miomas (miomectomia). Em casos selecionados e refratários, a histerectomia pode ser considerada.

Miomas Uterinos Sintomáticos

Miomas são tumores benignos extremamente comuns, mas nem sempre causam sintomas. Quando sintomáticos, podem levar a sangramento intenso, dor, pressão pélvica, aumento do volume abdominal, sintomas urinários (compressão da bexiga) ou intestinais. Para mulheres com miomas sintomáticos que desejam preservar o útero ou a fertilidade, a miomectomia (remoção cirúrgica dos miomas) é o tratamento de escolha. Como mencionado, pode ser feita por histeroscopia, laparotomia, videolaparoscopia ou cirurgia robótica, dependendo das características dos miomas. Para mulheres que não desejam mais ter filhos e têm sintomas severos, a histerectomia pode ser uma solução definitiva.

Endometriose

Além da dor pélvica, a endometriose pode causar infertilidade. O tratamento cirúrgico, geralmente por videolaparoscopia, visa remover os implantes de endometriose, cistos ovarianos relacionados (endometriomas) e aderências, buscando aliviar a dor e, em alguns casos, melhorar as chances de gravidez. A cirurgia para endometriose pode ser complexa, especialmente em casos de doença profunda que afeta outros órgãos como intestino ou bexiga, exigindo expertise do cirurgião.

Prolapso de Órgãos Pélvicos

O prolapso ocorre quando os músculos e ligamentos que sustentam os órgãos pélvicos (útero, bexiga, reto) enfraquecem, fazendo com que esses órgãos "desçam" ou se projetem para dentro ou para fora da vagina. Isso pode causar sensação de peso ou bola na vagina, incontinência urinária, dificuldade para evacuar ou dor lombar. O tratamento pode envolver fisioterapia pélvica, uso de pessários (dispositivos vaginais de suporte) ou cirurgia para corrigir o prolapso (colpoplastia, histerectomia vaginal com suspensão da cúpula vaginal, etc.). A escolha da técnica cirúrgica depende do tipo e grau do prolapso e das condições da paciente.

Infertilidade

Algumas causas de infertilidade podem ser tratadas cirurgicamente. A videolaparoscopia pode ser usada para tratar endometriose, remover aderências que distorcem as trompas, ou realizar procedimentos nas trompas (salpingoplastia). A histeroscopia pode remover pólipos, miomas submucosos ou septos uterinos que dificultam a implantação do embrião.

É importante reforçar que nem toda queixa ginecológica resultará em cirurgia. Priorizamos uma abordagem individualizada, explorando todas as opções de tratamento e reservando a cirurgia para quando ela é realmente necessária e benéfica, sempre utilizando as técnicas mais modernas e minimamente invasivas disponíveis, como a videolaparoscopia e a cirurgia robótica, para garantir a melhor recuperação possível.